outubro 15, 2010

Rascunhos Interiores

Talvez.Talvez a questão seja eu. Talvez esteja em mim. Talvez a questão seja eu e esta minha sede desmedida de vida. Talvez seja esta minha vontade sufocante de partir para um qualquer lugar onde me esperem ou não, sem nota prévia de chegada ou hora marcada de regresso. Talvez seja eu e este meu desejo incontrolável de querer viver. Não é apenas viver. É dar. Por inteiro. Intensamente. É sentir. Sentir a alma vibrar com um sorriso num rosto, um brilho de um olhar, a ternura de uma mão que se estende, o calor que se dá e recebe num abraço, como uma meta cumprida, um objectivo atingido, um sonho realizado. Talvez seja eu e esta minha avidez de querer parar de escrever a página de um livro cuja personagem deixei de reconhecer e começar outro. De novo. Com o Eu que conheço, que sempre fui e que perdi num qualquer parágrafo escrito no lugar errado, que fez mudar o rumo desta que é hoje uma desinteressante história. Um enredo que vai perdendo a cada dia o sentido, com um epílogo demasiado previsível. Talvez seja eu, mera figurante ou personagem em papel inadequado. Talvez seja eu e minha cupidez de querer correr pelas linhas, tropeçar nas vírgulas, cair nos pontos finais e erguer-me para um novo parágrafo. Uma nova página. De querer aprender pela passagem dos pontos de interrogação, deliciar-me com pontos de exclamação, mergulhar nas reticências e absorver tudo o que está para além delas. Talvez seja eu e esta minha sofreguidão de me superar a mim mesma. Porque acredito que nunca sou o bastante e que posso ser sempre mais e melhor.
Talvez.

1 comentário:

Gonçalo Rosa disse...

há já um par de anos que abandonei o blogue onde me visitavas... "moro" agora neste, com outras experiências... espero que gostes :)

reflex-goncalo.blogspot.com

Gonçalo